Cordel A hora da morte
Há
cordéis que contam histórias. É o caso do texto a seguir:
Se houver dificuldade diante de uma palavra
desconhecida, grife-a e tente descobrir o seu significado. Se necessário,
consulte o dicionário.
A HORA DA MORTE
Chico
Salles
Esta
primeira história
Me
contou Jota Canalha
Afirmando
ser verídica
Se
deu em Maracangalha
O
conto do Carochinho
Foi
com Nelson Cavaquinho
Que
se passou a batalha.
O sujeito teve um sonho
Do dia em que morreria
Seria na terça-feira
Vinte oito era o dia
Do primeiro fevereiro
Já estava em janeiro
Começou sua agonia.
No dia seguinte do sonho
Procurou a cartomante
Que confirmou a história
Ele mudou de semblante
Dizendo-lhe até o horário
Marcando no calendário
Ali naquele instante.
Seria às vinte e três horas
Reafirmou com certeza
O cara saiu dali
Carregado de tristeza
Murmurando repetia
Meu Deus mas que agonia
Mostre-me sua grandeza.
E com o passar dos dias
Aumentava a aflição
Ele cheio de saúde
E naquela situação
Meu Deus o que faço agora
Passava outra aurora
E nada de solução.
Quando chegou fevereiro
Seu peito alto batia
Procurou um hospital
E na cardiologia
Naquela dúvida infame
Fez tudo o que é exame
Até radiografia.
[...]
A saúde era perfeita
Não tinha nem dor de dente
Ficou um pouco animado
Mais ou menos sorridente
Outra semana passou
O calendário voou
Deixando-lhe impaciente.
Até que chegou o dia
Daquela interrogação
Foi então dormir mais cedo
Mas sua imaginação
Resolveu naquele instante
Tomar um duplo calmante
Haja, haja coração.
O relógio despertador
Em cima de uma banqueta
Ele embaixo do lençol
Aquela triste faceta
Um minuto era um mês
Olha o relógio outra vez
Batendo feito o capeta.
Depois, se passar das onze
Ele estaria salvo
Daquela situação
Não seria mais o alvo
Mas o tempo é assim
Quando quer fazer patim
Não dá nem um intervalo.
Passava das dez e meia
Quando chegou o destino
Bateu na sua cabeça
Feito badalo de sino
Ali naquele momento
Veio no seu pensamento
Sair daquele pepino.
Pegou o despertador
Atrasou em quatro horas
Em seguida adormeceu
Feito anjos na aurora
Isto já faz vinte anos
Vivinho e cheio de planos
Nem pensa em ir embora.
SALLES, Chico. A hora da morte.
Fonte: Livro – Português – Conexão e
Uso -7º Ano – Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho, Editora Saraiva, 1ª ed., São
Paulo, 2018.p.136-9.
Vocabulário
verídico: verdadeiro.
agonia: sofrimento intenso.
cartomante: pessoa que, supostamente, faz
adivinhações e previsões com base na leitura de cartas.
semblante: fisionomia, rosto.
cardiologia: no contexto do poema, setor do
hospital que se ocupa das doenças do coração e dos vasos sanguíneos.
fazer
pantim: dar
notícias alarmantes; espalhar boatos.
Entendendo o texto
1-
Na primeira estrofe, ficamos sabendo que o
cordelista vai contar uma história. Resuma essa história com suas palavras:
2-
No começo da história apresentada, o
personagem principal teve um sonho. Por que o personagem ficou tão impressionado
com esse sonho?
3-
Depois disso, o personagem procura alguém.
O que essa segunda personagem diz a ele?
4-
O que mais o personagem fez para tirar
suas dúvidas a respeito de sua morte?
5-
No dia e hora marcados, que ideia o
personagem teve para “atrasar” sua
morte?
6-
O cordel termina como pareceu indicar o
início da história? Por quê?
7-
Na sua opinião, o personagem conseguiu
ficar vivo por causa da ideia de atrasar o relógio ou por outro motivo?
Explique:
8- Em
um dos versos do cordel, é dito que “o calendário voou”. O que isso significa?
9- Se
você soubesse o dia da sua morte, você agiria como o personagem? O que você
faria?
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